O Maracatu

História
    Os negros que foram trazidos para o Brasil, em sua grande maioria, pertenciam as mais diversas tribos do continente africano, Benguelas, Caçanges, Congos, Nagôs, Moçambiques, Minas, Daomés, Ardras, Angolas, Criolos, entre outros. Mesmo como escravos, os negros continuaram com os seus costumes, reunindo-se em torno dos seus chefes, cantando e dançando suas danças e praticando suas religiões.
Sobre o período escravocrata encontramos diversas coisas nos livros de histórias atuais, mas quando falamos da cultura do negro escravizado nessa época são poucas as publicações que podemos buscar como embasamento para adentrar a fundo na cultura de tamanha riqueza que carrega esse povo.
    Os documentos antigos, não registram com exatidão a época em que teria surgido o maracatu em Pernambuco. As publicações não contribuem para precisar o ponto, embora, de certo modo, nos passam valer como porta de entrada para a história dessa cultura. Talvez as festas de coroação dos reis negros, nomeados na instituição do Rei de Congo, seja o principal relato histórico onde acharemos as possíveis origens dos maracatus de baque virado, como é sugerido por alguns autores.
    Fazendo uma pesquisa num passado recente em relação ao maracatu, poucas coisas seriam encontradas, pouco se escreveu e pouco se divulgou dessa cultura. Muito do que se escreveu se perdeu com tempo, ou foi relatado por pessoas que não tinham uma vivência com o maracatu, ou generalizando todas as nações ao descrever a rotina de uma única nação de maracatu e ainda assim, essas informações, de alguma forma sofriam distorções devido ao fato, de muitas vezes, existir pouca convivência do pesquisador com a comunidade da nação e até mesmo o preconceito que se tinha entre a nação e o as pessoas que há procuravam para pesquisar os seus costumes.
    Se procurarmos na internet hoje, sobre qualquer termo ligado a palavra “maracatu”, encontraremos dezenas de resultados, mostrando a vasta quantidade de pessoas que são interessadas pelo o Maracatu nos dia de hoje. Com o passar dos anos, observamos também uma maior abertura das nações para com os pesquisadores dessa cultura.
    O Maracatu Nação ou Maracatu de Baque Virado é uma manifestação da cultura popular brasileira, afro-descendente e de caráter religioso. Seu Surgimento é registrado onde hoje é o estado de Pernambuco, mais precisamente nas cidades de Recife, Olinda e Igarassu, durante o período escravocrata, entre os séculos XVII e XVIII. Como a maioria das manifestações populares brasileiras é uma mistura de culturas ameríndias, africanas e européias.

A Instituição do Rei de Congo
    Desde antes dos portugueses chegarem ao Brasil, os negros escravos que eram levados a Portugal haviam elegido Nossa Senhora do Rosário como padroeira. No Brasil, logo no início da colonização, são criadas as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Essas Irmandades, que agregavam os negros, serviam como mecanismos de inserção dos escravos na sociedade colonial.
    Muitas foram às tribos de africanos trazidos para o Brasil como escravos. Assim, desde o início misturavam as diversas etnias com o objetivo de dificultar a organização de insurreições. No Recife, a predominância era dos bantos, especialmente angolanos.
    Os escravos que trabalhavam neste ou naquele engenho juntavam-se em grupos chamados de nações, que tinham cada uma suas tradições, dialetos e costumes próprios.
    Desde meados do século XVII, foi adotado o costume de eleger um rei e uma rainha negros para cada comarca ou distrito paroquial. Era a instituição do Rei do Congo. Estes rei e rainha governavam sobre todas as nações de negros desta região. Dentre as muitas nações existentes de negros, apenas a do Congo tinha o privilégio de eleger seu rei.
    Além dos cargos de rei e rainha, existiam também os cargos de governador e outros que eram inspirados nas patentes militares do exército. Esta hierarquia objetivava a manutenção da ordem e da disciplina entre os negros. O rei do Congo, bem como os demais cargos hierárquicos subordinados a este, era apenas um auxiliar da autoridade policial. Todos, inclusive o rei e a rainha, eram autoridades intermediárias entre o poder do estado e todas as nações africanas, sem que se dessem conta disso.
    A festa de coroação do rei e da rainha do Congo acontecia no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
    A festa acontecia anualmente em março e era dirigida pelos negros da instituição. A coroação só acontecia no caso de falecimento, renúncia ou deposição do rei ou da rainha que se encontravam na função.
    Na ausência de apenas um deles, no caso do falecimento do rei, por exemplo, a rainha permanece no cargo e um novo rei é escolhido. Após a eleição, dava-se o ato solene da coroação, sendo o pároco local aquele que lhes concedia a coroa, o que demonstra o total envolvimento da Igreja com a Instituição.
    As nações concorriam para abrilhantar as festas de coroação com encenações que eram apresentadas em palcos montados, com teatro, música e dança, chamadas de auto dos Congos. Essas encenações representavam a coroação do rei do Congo, e tinham personagens que representavam um cortejo real, com cargos de nobreza como duques, embaixadores, príncipes e princesas.

O Maracatu de Baque Virado nos dias de hoje
    Com a abolição da escravatura no Brasil, o Maracatu passa gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com outras práticas da cultura popular brasileira, tendo em diversos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Xangô ou Candomblé  Pernambucano.
    A visão do maracatu de baque virado atualmente esta associada principalmente ao cortejo e ao batuque. Os trajes usados ainda procuram imitar aqueles que seriam a de uma corte real portuguesa dos tempos coloniais, com todo o seu charme e nobreza. O batuque talvez seja a parte do maracatu que sofreu maior mudança, ocorrendo com o passar dos anos a introdução de alguns instrumentos que no passado não eram usados e a permissão da participação da figura feminina no batuque.
    Nos maracatus mais tradicionais observam-se apenas dois toques: o virado e o Luanda, toques esses que são considerados os mais tradicionais, porém outros maracatus adotaram outros toques, também tradicionais, como o malê, o martelo e o arrasto, onde com o passar do tempo tornou-se uma forma de “identificar” as nações.
    As loas são os cantos executados durante a apresentação de uma nação. Nunca são cantos improvisados, pelo contrário, trata-se de cantos que têm um ritmo particular, falam, geralmente, de adorações aos guias ou pessoas importantes que fizeram parte da história da nação, e assuntos ligados ao cortejo.
    O batuque do maracatu é formado por instrumentos de percussão, no passado poderíamos ver uma corneta fazendo parte do maracatu de baque virado, porém ela não fazia parte do batuque, mas tinha o papel de ir à frente do maracatu para anunciar a sua chegada. No passado, a formação instrumental do batuque, nas nações mais tradicionais agregava o gonguê, tarol, caixa-de-guerra e alfaia, unicamente. Até hoje algumas nações preservam esse formato, entretanto outras além dos instrumentos citados a cima adicionaram em seus batuques o uso do agbê, ganzá, timba e ilú. Não se tem um número exato de batuqueiros por batuques, a quantidade de instrumento varia de nação pra nação e da disponibilidade de batuqueiros em cada nação. O batuque hoje é uma ou a grande marca da nação, onde o estilo e sonoridade do batuque podem identificar ao longe qual nação se aproxima.

O Boom do Maracatu
    Após um grande processo de decadência dos maracatus de Pernambuco durante décadas, ocorreu nos anos 90 o que podemos chamar de “O Boom do Maracatu”. A prática e interesse sobre a cultura do maracatu adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado desde então, resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU), e principalmente do movimento Mangue Beat que teve como principais expoentes Chico Science e Nação Zumbi e a Banda Mundo Livre S/A, entre outros. Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é o estado de Pernambuco e chegou a diversos lugares do país e do mundo.
    Atualmente existem diversos grupos percussivos que surgiram a partir desse movimento, eles trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação principalmente o elemento batuque. Observamos a presença dos mesmos em quase todos os estados brasileiros, e também espalhados pelo mundo, porém não são ligados ao lado religioso que faz parte da cultura do maracatu nação, logo não podem ser denominados como Maracatu e sim como grupo de percussão.